top of page

O desabrochar de uma flor: o encontro com a maternidade

Atualizado: 28 de mai. de 2020

(Para o meu filho Felipe que me ensinou o que é ser mãe e para minha filha Sofia que alargou ainda mais essa experiência).


Fiquei pensando bastante sobre como começar a escrever de forma autoral neste blog e me debati muito acerca dos temas possíveis. Espero ainda escrever a respeito de muitos temas, principalmente os escolhidos pelo próprios pais, mas resolvi escrever primeiro sobre o tema sem o qual o sonho de desenvolver um trabalho com pais e filhos, não existiria: a maternidade.

Sou mãe de dois filhos e afirmo com convicção que a maternidade me modificou de maneira radical e para sempre, portanto, esse será o tema de hoje.

Atualmente, na nossa cultura e no mundo contemporâneo, no qual as mulheres têm múltiplos papéis, além de serem mães, o sonho da maternidade permanece.

Brincamos de bonecas na infância, imitando nossas próprias mães e desde lá parece que carregamos um desejo de ter um bebê para cuidar.

Grande parte das vezes, nos tempos atuais, guardamos esta vontade e vamos estudar, trabalhar, namorar, viajar, viver de múltiplas formas para depois de tudo, finalmente pensar em gravidez. Às vezes, algumas mulheres se deparam com a dificuldade de engravidar já sendo mais maduras. Mas como saberiam antes, se sempre evitaram? Outras, engravidam facilmente. No entanto, todas embarcam nesta nova grande “viagem” rumo à maternidade.

Para quem quer engravidar, receber um teste de beta-hcg positivo dá uma sensação comparável a de ganhar na mega sena! É um presente dos “deuses” e passamos por um total estado de êxtase! Ao longo dos nove meses nos preparamos de variadas formas para o nascimento do bebê. Passamos também por vários rituais que nos ajudam a realizar a chegada deste novo membro da família: preparamos um quartinho, montamos um enxoval, fazemos um chá de fraldas, dentre outros. Passamos também por inúmeras mudanças: choramos sem razão, mudamos até de paladar! E de repente, de repente mesmo, a barriga dá um “salto” e perdemos literalmente o nosso ponto de equilíbrio.

Com tudo isso começamos a sentir uma das coisas mais incríveis da vida: um bebê que se mexe dentro do nosso corpo! Ficamos especialistas em ultrassom e convencemos de toda forma os nossos obstetras a pedirem “só mais um” para vermos o nosso bebê na “televisão”. Descobrimos que ele se espreguiça, soluça, chupa dedo e já o achamos a nossa cara”. Mas esse é só o começo de uma longa jornada.

Protegemos nossas barrigas como leoas e “ai de alguém” que nos dê um esbarrão. Começamos a perceber o encanto que a gravidez exerce sobre os outros e recebemos sorrisos simpáticos de senhoras, olhares curiosos de crianças e gentilezas de todos os tipos. Parece que de uma hora para a outra viramos o centro das atenções de todos e isso dá uma grande sensação de amparo.

Geralmente, depois das 37 semanas, como o bebê já é bem grande, os incômodos começam a dificultar um pouco mais a vida e não paramos de pensar em ver logo a carinha do nosso tão esperado filho. Entretanto, poucas de nós passam por alguma preparação sob o ponto de vista emocional para o encontro com a maternidade. Chamo de encontro, pois considero que ser mãe consiste em um processo intenso e constante de construção. Não nos tornamos mães exatamente no momento que engravidamos ou no que o nosso filho nasce. Vamos nos tornando mães ao longo da vida, dia após dia. Talvez esse processo tenha até começado lá naquela época que imitávamos a nossa mãe e dávamos mamadeira para as nossas bonecas.

É fato que junto com o bebê nasce uma mãe, mas o encontro com a maternidade é muito mais do que isso. Ser mãe tem relação com a maternagem que tivemos das pessoas que cuidaram de nós mesmas, tanto no início da nossa vida, quanto ao logo dela. Ser mãe envolve o fator “como o nosso parceiro nos apoia”. Ser mãe abrange vários temas centrais da nossa vida, como por exemplo, o quanto a nossa família nos permite cuidar do nosso filho sem muitas interferências. As mães “possíveis” são, sobretudo, aquelas que têm boas parcerias e com isso, um bom suporte emocional, pois apesar de não ser segredo, parece tabu, dizer que ser mãe é uma tarefa exaustiva e muito difícil mesmo!

As mães ficam exaustas das noites mal dormidas e paradoxalmente da vontade de ficar acordada o tempo todo. Seja para contemplar aquele fofo bebezinho no berço, seja para verificar de um em um minuto que ele está respirando. As mães se desesperam quando os bebês choram e buscam de todas as formas acalmá-lo, descobrindo que sabem fazer coisas que até então nem imaginavam. Nestas horas, vamos sendo, “cada vez mais mães”, pois sentimos um grande senso de realização com coisas aparentemente muito pequenas. Fazer um bebê dormir pode parecer mais gratificante do que passar em um vestibular. Sendo assim, descobrir as sutilezas do filho é um aprendizado impagável e, por isso, considero algo inalcançável apenas sob o ponto de vista racional - é fácil palpitar sobre a maternidade - o difícil é vivê-la um dia após o outro. Na minha experiência, este consiste num dos trabalhos mais árduos na ótica emocional.

E pensar que tudo isso se dá o tempo todo em cada canto desse mundo...

Preocupo-me particularmente com a mulher que passa pela experiência de ser mãe, mas não a do encontro com a maternidade. Com aquela que endurece e que desiste de buscar o entrelaçamento entre ela e o filho. Infelizmente, isso também acontece todos os dias, mas nem sempre somos capazes de perceber ou mesmo de ajudar. No nosso país a infância tem sido, cada vez mais terceirizada, e com isso, situações que apontam para as dificuldades entre pais e filhos, sobretudo entre a mãe e o bebê, são camufladas. Passam desapercebidas, nem sempre sem causar vários danos emocionais e de relacionamento para a própria mulher, marido e filhos.

Neste sentido, com o intuito de servir de suporte, continente, fonte de trocas, e com o ideal de promover o desenvolvimento da criança e das relações entre pais e filhos nasce a Interação Clínica de Psicologia. Um fruto que sob o meu ponto de vista só pôde amadurecer depois dos árduos caminhos que percorri em busca do tal encontro com a maternidade. Hoje, quase 12 anos depois do nascimento do meu primeiro filho, e 9 anos depois da segunda, pude me apropriar de forma mais sensível de todos os estudos que fiz na área da psicologia, sobretudo no âmbito da terapia familiar e da psicologia do desenvolvimento.

Fernanda Travassos-Rodriguez é psicóloga, terapeuta de família e casal, doutora em psicologia clínica pela PUC-Rio, ex-professora da pós-graduação em terapia de família e casal da PUC-Rio e Diretora da Interação Clínica de Psicologia.




 
 
 

Telefone: +55 (21) 25116396

WhatsApp: +55 (21) 992379346

©2020 por Interação Clínica de Psicologia. CNPJ 12.289.521/0001-90

bottom of page